quinta-feira, 8 de março de 2012

Lab. de Criação - Aula 01


É comum ouvirmos as pessoas dizerem que não têm criatividade. Isso não é verdade. Apenas em algumas pessoas ela está mais aflorada do que em outras. Todos nós nascemos com criatividade, a diferença é o que fazemos com ela.
Para entender melhor esse processo, precisamos voltar à infância, e estudar como o desenvolvimento da criatividade ocorre nas crianças. O processo se manifesta claramente nos desenhos infantis, primeiro registro con­creto da expressão pessoal. Os desenhos infantis con­têm uma originalidade e um frescor de concepção que é a própria essência da infância.

Podemos ver um exemplo clássico no livro “O Pequeno Príncipe”


...
I
Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho.
Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão." 
Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:


Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.
Respondera-me: "Por que é que um chapéu faria medo?"
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:


As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.
As crianças menores, principalmente, expressam suas idéias, pensamentos e emoções com uma espontaneidade invejada por muitos artistas. O desenho das crianças é feito de maneira mais inconsciente, sem a preocupação do que os observa­dores irão pensar. A criança desenha por puro prazer. Até certa idade, ela não é limitada pelas barreiras exteriores que nos são impostas, as cobranças da família ou da so­ciedade. O que vale é a pura expressão pessoal. Daí os desenhos serem mais criativos. O que torna a arte expres­siva é a manifestação do “eu”, e suas reações subjetivas ao meio. (O Desenvolvimento da Criatividade e da Percepção Visual, Fernanda de Morais Machado)
De acordo com os autores Lowenfeld e Brittain, no livro “O Desenvolvimento da Capacidade Criadora” o desenho infantil passa por algumas fases de desenvolvimento.
(...) entre os doze e o quatorze anos, alguns jovens já têm o sentimento de serem adultos, mas seus desenhos são apreciados como algo infantil. Isso lhes causa um grande choque.” Assim, a criança se torna muito crítica em relação aos seus trabalhos, devido à pressão que ela sente para que ele se conforme aos padrões adultos de comportamento. Isso pode sufocar seus impulsos criadores. A ânsia e crescer gera certa vergonha na criança em relação aos seus desenhos. A cri­ança não quer ser vista como criança, e sim como adulto, merecedor de respeito perante a sociedade. Assim, a cri­ança sente-se envergonhada de seus desenhos ainda infantis, e acaba por reprimi-los, e reprime sua vontade de desenhar e de se expressar livremente.
Texto na íntegra: O Desenvolvimento da Criatividade e da Percepção Visual -
Fernanda de Morais Machado
Está aí nosso primeiro bloqueio mental para a expressão criativa: os conceitos estabelecidos.
O primeiro conceito estabelecido erroneamente é que a criatividade não é faculdade de todos e sim de pessoas seletas... As potencialidades e os processos criativos não se restringem, porém, à arte. Em nossa época, as artes são vistas como área privilegiada do fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente nos outros campos de atividade humana. Não nos parece correta essa visão de criatividade. O criar sópode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato,criar e viver se interligam.

(Fayga Ostrower Rio de Janeiro, setembro de 1976.)
Partindo dessa premissa que todo ser humano é criativo podemos conceituar criatividade.
 

CRIATIVIDADE


Numa perspectiva bastante abrangente, a criatividade pode ser definida como o processo mental de geração de novas idéias por indivíduos ou grupos. Uma nova idéia pode ser um novo produto, uma nova peça de arte, um novo método ou a solução de um problema. Esta definição tem uma implicação importante, pois, como processo, a criatividade pode ser estudada, compreendida e aperfeiçoada. Ela tira da criatividade aquela áurea de um evento mágico, místico e transcendental; um beijo de Deus na sua testa.
Ser criativo é ter a habilidade de gerar idéias originais e úteis e solucionar os problemas do dia-a-dia. É olhar para as mesmas coisas como todo mundo, mas ver e pensar algo diferente. O balão de ar quente foi inventado pelos irmãos Joseph e Etienne Montgolfier em 1783. A idéia teria ocorrido a Joseph ao ver a camisola de sua mulher levitar, depois que ela a colocara perto do forno para secar. Daí teria vindo a idéia de construir um grande invólucro em forma de pêra, de papel e seda, com uma abertura na base para ser inflado com a fumaça de palha queimada. Milhões de pessoas já tinham visto este fenômeno, mas somente os irmãos Montgolfier tiraram proveito prático desta observação. Eles viram muito mais do que uma camisola flutuando – isto é criatividade.

Portanto a criatividade é inerente a todo ser humano.
No livro Breakpoint and Beyond: Mastering the Future Today (1992), George Land e sua colega Beth Jarman concluíram que aprendemos a ser não-criativos. O declínio da criatividade não é devido à idade, mas aos bloqueios mentais criados ao longo de nossa vida. A família, a escola e as empresas têm tido sucesso em inibir o pensamento criativo. Esta é a má notícia. A boa notícia é que as pesquisas e a prática mostram que este processo pode ser revertido; podemos recuperar boa parte de nossas habilidades criativas. Melhor ainda, nós podemos impedir este processo de robotização. Ufa!
Para pessoas que exercitam a criatividade sempre existe outra maneira de se fazer as mesmas coisas. Essa pessoa não se dá por satisfeita enquanto não encontra uma maneira nova. Não se acomoda, não é monótona, nem rotineira. O bloqueio da nossa criatividade pode vir de vários fatores externos como internos. Bloqueios mentais são obstáculos que nos impedem de perceber corretamente o problema ou conceber uma solução. Pela ação destes bloqueios nós nos sentimos incapazes de pensar algo diferente, mesmo quando nossas respostas usuais não funcionam mais. Alguns bloqueios são criados por nós mesmos: temores, percepções, preconceitos, experiências, emoções, etc. Outros são criados pelo ambiente: tradição, valores, regras, falta de apoio, conformismo, entre outros. Os bloqueios mentais podem ser classificados em cinco categorias:

Bloqueios culturais:
Barreiras que impomos a nós mesmos, geradas por pressões da sociedade, cultura ou grupo a que pertencemos. Eles nos levam à rejeição do modo de pensar de pessoas ou grupos diferentes. Alguns destes bloqueios:
§  Nós não pensamos ou agimos deste jeito aqui.
§  Nosso jeito é o certo.
§  Respeitamos nossas tradições.
§  Não se mexe em time que está ganhando.

Bloqueios ambientais e organizacionais:
Resultantes das condições e do ambiente de trabalho (físico e cultural):
§  Distrações no ambiente de trabalho, reais ou imaginárias (interrupções, ruídos, telefone, e-mail).
§  Ambiente de trabalho opressivo, inseguro, desagradável.
§  Atitudes inibidoras à expressão de sentimentos, emoções, humor e fantasia.
§  Autoritarismo, estilos gerenciais inibidores.
§  Falta de apoio, cooperação e confiança.
§  Rotina estressante e inibidora.

Bloqueios intelectuais e de comunicação:

Inabilidade para formular e expressar com clareza problemas e ideias. Podem resultar de vários fatores:
§  Falta de informação e pouco conhecimento sobre o problema ou situação analisada.
§  Informação incorreta ou incompleta.
§  Fixação profissional ou funcional, isto é, procurar soluções unicamente dentro dos limites de sua especialização ou campo de atividade.
§  Crença de que para todo problema só há uma única solução válida.
§  Uso inadequado ou inflexível de métodos para solução de problemas.
§  Inabilidade para formular e expressar com clareza problemas e ideias.

Bloqueios emocionais:

Resultantes do desconforto em explorar e manipular idéias. Eles nos impedem de comunicar nossas ideias a outras pessoas. Alguns exemplos:
§  Medo de correr riscos; desde criança somos ensinados a ser cautelosos e não falhar nunca.
§  Receio de parecer tolo ou ridículo.
§  Dificuldade em isolar o problema.
§  Desconforto com incertezas e ambiguidades.
§  Negativismo: procura prematura de razões para o fracasso, por que não vai dar certo.
§  Inabilidade para distinguir entre realidade e fantasia.

Bloqueios de percepção:

Obstáculos que nos impedem de perceber claramente o problema ou a informação necessária para resolvê-lo. Inabilidade para ver o problema sob diversos pontos de vista. Exemplos:
§  Estereótipos: ignorar que um objeto pode ter outras aplicações além de sua função usual. Gutenberg adaptou a prensa de uvas para imprimir livros; Santos Dumont usou a corda de piano para substituir as pesadas e grossas cordas usadas nos balões.
§  Fronteiras imaginárias: projetamos fronteiras no problema ou na solução que não existem na realidade.
§  Sobrecarga de informação: excesso de informações e de detalhes que restringem a solução que pode ser considerada.
Os bloqueios são paredes invisíveis que nos impedem de sair dos estreitos limites do cubículo que construímos ao longo dos anos. Os tijolos desta parede são feitos de nossos medos, frustrações, ansiedades e imposições da sociedade, família, colegas e superiores. Quando se sentir paralisado e incapaz de pensar diferente, relaxe e procure enxergar estes tijolos. A consciência dos bloqueios mentais já é meio caminho andado no desenvolvimento de suas habilidades criativas.




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