domingo, 20 de julho de 2014

O Começo do caminho - Uma viagem ao universo infantil parte 02

Segundo Ostrower, 1978: "O processo vivencial está diretamente ligado ao processo criativo". A criança sem a apresentação de desenhos estereotipados acaba por apresentar uma visão da realidade mais natural, sem o contágio do social.


De acordo com os autores Lowenfeld e Brittain, no livro “O Desenvolvimento da Capacidade Criadora” entre os nove e doze anos, a criança deixa de lado a repetição dos mesmos símbolos. Ela adquire auto-crítica e também consciência do ambiente natural. Passa a se preocupar com proporções e profundidade. Entre os doze e os quatorze anos, alguns jovens já têm o sentimento de serem adultos, mas seus desenhos são apreciados como algo infantil. Isso lhes causa um grande choque.” Assim, a criança se torna muito crítica em relação aos seus trabalhos, devido à pressão que ela sente para que ele se conforme aos padrões adultos de comportamento.

Está aí nosso primeiro bloqueio mental para a expressão criativa: os conceitos estabelecidos.
O primeiro conceito estabelecido erroneamente é que a criatividade não é faculdade de todos e sim de pessoas seletas... As potencialidades e os processos criativos não se restringem, porém, à arte. Em nossa época, as artes são vistas como área privilegiada do fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente nos outros campos de atividade humana. Não nos parece correta essa visão de criatividade. O criar sópode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato,criar e viver se interligam. (Fayga Ostrower Rio de Janeiro, setembro de 1976.)
No livro Breakpoint and Beyond: Mastering the Future Today (1992), George Land e sua colega Beth Jarman concluíram que aprendemos a ser não-criativos. O declínio da criatividade não é devido à idade, mas aos bloqueios mentais criados ao longo de nossa vida. A família, a escola e as empresas têm tido sucesso em inibir o pensamento criativo.
Ken Robinson, educador e estudioso sobre criatividade afirma: “O atual sistema educacional mata a criatividade” Veja o TED a seguir.



Para garantir nossa criatividade precisamos da liberdade e da imaginação infantil, mas tem muita gente lendo esse post agora e pensando que é tarde para reaprender. Digo uma coisa, no que depender de mim, não!
Ainda há tempo. Para quem ainda não leu, sugiro a leitura do livro "O Pequeno Príncipe" (http://www.biblioteca.radiobomespirito.com/o_pequeno_principe.pdf), no primeiro capítulo, o autor faz referência à incapacidade do adulto de manter as explicações lógicas  longe do processo criativo, removendo deste a liberdade que lhe é própria.

Capítulo 
I
Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho. 



Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão."
Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:



Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. 
Respondera-me: "Por que é que um chapéu faria medo?" 
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:



As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando. 

Ao entrar no processo de criação tente deixar as explicações e julgamentos suspensos por um tempo, e dê à sua criação um pouco de liberdade.

Você conseguiria enumerar neste momento 10 coisas que não existem?! Não?! Vamos tentar assim...
Escada até as nuvens, camiseta com gosto de pizza, espelho que muda nossa aparência, luvas mágicas que moldam água do mar, cabelos que crescem até a cintura todas as noites...
Difícil?! Tenta fazer isso em forma de jogo com uma criança. Ela fará facilmente isso...
No próximo post vamos entrar no mundo imaginário. Tomara que esteja preparado.











O Começo do caminho - Uma viagem ao universo infantil parte 01

E se no seu mundo existissem animais que viessem diretamente de sua imaginação?!
Todo mundo, na infância, foi criativo. Algumas pessoas guardam até hoje os rabiscos feitos com lápis de cor de seus filhos como memórias vivas de algo precioso. Quando adultos dizemos que não temos criatividade e é por esse motivo que convido vocês para um retorno à infância.
Lá, quando fazíamos atividades como pintura, recorte, colagem, desenho livre ou dobraduras, estávamos desenvolvendo nossa imaginação e criatividade, além de estarmos nos divertindo muito.
Hoje reconhecemos que a criatividade e a imaginação são ferramentas essenciais para o designer e não sabemos como usá-la ou aproveitá-la de forma ampla e abrangente. 
Então vamos começar uma aventura pelo universo infantil, e nele, encontrar meios para flexibilização dos paradigmas construídos e cristalizados ao longo do tempo.
Antes de começarmos, gostaria de salientar que não é um caminho novo, muitos designers já encontraram inspirações, metodologias de trabalho e um caminho mágico por essa estrada de tijolos amarelos.
A artista Wendy Tsao , de Vancouver, no Canadá, buscou um jeito mais eficaz guardar uma lembrança da infância. Ela cria bonecos a partir de desenhos feitos por crianças. A ideia surgiu há quatro anos, quando seu filho começou a ir à escola. Os professores pediram que ela enviasse um brinquedo preferido que pudesse tranquilizar o guri em momentos de emergência; mas ele não tinha.




Na profissão de designer entendemos que o processo de criação advém de uma demanda. Formalmente começa com a detecção de um problema ou uma questão, depois fazemos uma pesquisa, levantamento de dados, geramos alternativas e o processo se instaura. A criatividade não é parte deste processo, mas é o processo em si. Desde como você olha para o problema, a cada decisão e escolha durante o processo até a solução encontrada.
Wendy Tsao, usou a criatividade quanto resolveu produzir algo que o filho pudesse reconhecer, projetado por ele próprio. 






No Brasil,  o programador Bruno Abdelnur não resistiu aos desenhos de sua sobrinha e decidiu transformar uma tartaruga em bichinho de pelúcia e junto com Jéssica Domingues montaram a Rabisquedo, empresa que transforma qualquer desenho infantil em um brinquedo real.
Partindo da experiência com crianças, desenvolveu também o "brinquedo em branco" que podem ser pintados com canetinhas pelas crianças, estimulando sua criatividade.
Para ampliar os negócios, a Rabisquedo lançou em outubro seu aplicativo para Android, um caderno de desenho em branco. Nele, as crianças podem soltar a imaginação e ainda, com poucos cliques, podem transformar seus desenhos em bichinhos. “Os pais podem usar os desenhos feitos nos tablets ou celulares e enviar para a Rabisquedo através do próprio aplicativo”, explicou Jéssica. 

Informações: http://www.rabisquedo.com.br/

Design e criatividade não só no produto, mas no processo! Embarque nessa viagem e volte a imaginar como criança. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo processo.